Gente velha!

Já não é de hoje que estava com esse texto em mente, mas só agora tive a inspiração que faltava para escrevê-lo.

De início, já peço desculpas se o título ofende os membros “Master” e “Over” se o título está meio ofensivo. Eu posso explicar.
 Desde a nossa última presepada para a Chapada, decidi que ia comprar um GPS e tentar desbravar alguns locais diferentes, que antes eram vistos só pelo Google Earth. E assim foi feito. 
Para realmente estreá-lo, parti das imediações do município de Pires do Rio com destino a São Miguel do Passa 

Quatro. Um percurso de cerca de 90 km (ida e volta), com regiões relativamente planas, de estrada larga e sem muitos segredos.

 Vamos que vamos: uniforme dos seriemas lavado e passado, capanguinha no quadro da bike pra carregar câmEra e câmAra e parti sozinho por esse nosso cerradão véi sem porteira! 

Fui pensando de como é engraçado que cada um de nossos pedais possa virar uma grande estória, com páginas e páginas a serem escritas. (mas dessa vez, vou poupá-los dessa tortura…hehehe). Desde os pedais mais redondos, até aqueles cheios de coisas erradas, correntes arrebentadas e pneus furados. Tudo é sempre farra e, principalmente, aventura.
 Na ida para Passa Quatro, em determinada subida, passei por um senhor, andando a pé, calçado em sandálias havaianas, num paço firme e valente. Quando estava passando, ele me perguntou: “-Por que ocê num joga essa bicicreta em cima de uma caçamba e chega logo no Passa-Quatro?” Logo respondi: “ Por que se não perde a graça…” Algumas risadas depois, eu acabei perguntando a ele para onde estava indo. Ele me respondeu prontamente e com um tom firme, como quem estava frente a um grande desafio. Como estávamos já nos distanciando, entendi mais ou menos o que ele tinha dito…. 
Cheguei na pequena cidade de destino, onde já havia passado algumas vezes de carro. É interessante como nossos olhos ficam mais sensíveis quando passamos por lá de bicicleta. De fato, ficamos mais “abertos” às belezas que os lugares têm a nos oferecer.

 Coca-cola gelada, um queijo de trança bem fresco jogado dentro dos bolsos da camiseta e tratei logo de pegar o caminho de volta.
 No meio dele, encontrei uma verdadeira tropa de cavaleiros, como se estivessem “tocando” alguns outros cavalos que não estavam arreados.

 Encostei perto do arame para não assustar a tropa de cavalos. Dois dos cavaleiros (um deles, um senhorzinho de mais idade) acabaram parando e conversarmos um pouco. Abriram uma capanga, que parecia estar com muitos mantimentos e roupas. Perguntei se estavam tocando os cavalos para alguma fazenda ali perto e eles me disseram que não. Disseram-me que o “desafio” deles era um pouco maior: TRINDADE! Sim senhores, cerca de cinco dias no lombo de um cavalo para chegarem a Trindade!!!!

 Me disseram que todos os anos, nessa época de junho, vão de cavalo até trindade. Os cavalos que não estavam com arreio serviam para que fizessem o revezamento da tropa. Era muito evidente o tom de desbravadores e desafiadores dos cavaleiros. De como era grande aquele desafio que eles topavam todos os anos. Disseram que vão com uma “capanga” pendurada nos cavalos e que no meio dos caminhos vão pedindo “pouso” aos moradores de beira de estrada, que sempre são muito solícitos e sentem grande honra de receber os desbravadores. Daí me lembrei do homem que cruzei no caminho de ida, andando a pé e perguntei se aquilo que eu havia entendido, era de fato o que ele queria dizer: que estava indo a pé para Trindade. Sim… eles responderam. Disseram que a “fé” fazia aquelas pessoas irem a pé só com a roupa do corpo até Trindade, como era o caso daquele homem. (independente da crença religiosa de cada um, é incrível um fato desses….)
 Depois da prosa, e dos dois cavaleiros terem tomado alguns goles de água e de Guaraná Jaó, partimos em sentidos opostos.
 Parti num ritmo mais lento. Bem pensativo. Principalmente na imagem que ficou  gravada do senhorzinho mais velho. De fato, era uma presepada dura para qualquer um andar durante cinco dias para alcançar algo que para muitos não faz sentido algum. 

 Não tinha como não fazer o paralelo com nosso “bando”. Acredito que todos nós tenhamos diferentes objetivos ao participar do grupo. Uns gostam de competir, outros de viajar, outros das trilhas nos sábados, outros de passar na oficina do Romar para jogar conversa fora (e beber umas brejas)…..mas algo que acredito que exista em todo seriema de verdade: a sede por novos desafios. Independente do tamanho dele. Seja numa cicloviagem, seja numa pirambeira muito doida, seja num treino mais forte para algum local desconhecido…. E essa sede por novos desafios nos tornam verdadeiros moleques! Sim! Todos somos moleques. Porque se aprendi ao longo desses meus poucos anos de vida, é que uma pessoa se torna verdadeiramente velha quando ela deixa de ter desafios na vida. Não necessariamente “objetivos”, mas, apenas, novos desafios…. daqueles que se alcançados ou não, só pelo caminho percorrido para se chegar perto dele, já fazem tudo valer a pena. Aquele senhorzinho em cima do cavalo era, de fato, um jovem! Por topar um grande desafio como aquele. E, para mim, esse é um dos “espíritos Seriemas de ser”: um “bando” de “moleques” loucos por novos desafios! 
Por Gustavo Johnny Bravo (Mudinho)