Serra… e o fogaréu!!!

O bicho-homem sempre surpreende a si mesmo.
Infelizmente nem sempre essas surpresas são boas.
Assim como em outros PARAÍSOS para a prática do mountain bike, como Serra Dourada, região do Pirineus e Circuito do Laboratório, a Serra também foi castigada mais uma vez pela ação das queimadas, muita das vezes iniciadas pela mão humana.

Em outros anos até (veja aqui) conseguimos ajudar no combate ao fogo, mas desta vez nem nós, nem outros, conseguiram aplacara a fúria das labaredas. Foram queimados mais de 800 hectares do cerrado local. Plantas únicas e vários pequenos animais foram consumidos… uma lástima!!!

Sempre acreditamos que a prática esportiva com consciência ecológica, colabora e muito na preservação!!!

Felizmente, o cerrado é muito forte, logo estará tudo verde de novo, mas os animais e plantas mais exóticas sofreram perdas irrecuperáveis!

Mesmo com tanta desolação, após a queimada, o lugar ainda continua exuberante. Prova disso foi renovar as energias com banho de cachoeira (do Marimbondo), que até nos leva a outros lugares, como que se estivéssemos em outras cidades!! TOP!!!!

Zoiada Seriema da Macaca

Já está mais que batido que o grupo Seriema é, acima de tudo, um bando de amigos.

Amigos que inicialmente se reúnem em torno da nossa filosofia inicial de pedalar por trilhas (de preferência técnicas) onde quer que seja, mas que também, vez por outra, se reúne em diversas outras ocasiões. Uma destas ocasiões são as competições que rolam principalmente em Goiás e no DF, quando sabemos que o percurso será verdadeiramente desafiador. 
E assim foi que alguns de nós topamos o Desafio da Macaca 2014. Prova que nasceu do grupo de Pedal BNF (Pedal Bonfinópolis) e que tem tudo para se firmar no calendário das melhores provas que acontecem na região. 
De fato, alguns de nós gostamos de nos dedicar um tanto a mais ao esporte. Treinamentos relativamente “sérios”. Estamos longe de sermos atletas profissionais. Mas quando as voltas da vida deixam, tentamos nos dedicar um pouco a mais. Bem mais que as pessoas “comuns” que levam o esporte apenas como hobby. E, infelizmente (ou felizmente, dependendo do ponto de vista), isso envolve alguns sacrifícios, como tentar balancear um pouco na comida e na farra (cachaça) para que os treinos possam render. Voltar mais cedo de festas, ter disciplina nos horários, etc…Além disso, sempre há alguns outros sacrifícios que até nossa família (principalmente filhos) sentem. Afinal de contas, o dia tem “só” 24 horas…..
E para esta prova especificamente, alguns de nós Seriemas demos uma turbinada nos treinos, afinal de contas, sabíamos o que nos esperava. A região de Bonfinópolis é bem conhecida do grupo. Como sempre brincamos entre nós: “Se tiver que ser estradão, que seja em Bonfim!!!” 
E lá fomos eu (Gustavo Mudim), Derúbio, Paulo Tapete Tobias e Guilherme Cicloval para o desafio. 
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Minha “zoiada” da Macaca:
Já no dia anterior, deixei a família na casa de parentes em Goiânia e fui direto à casa do Nilsin e da Nádia no Canedo. Como sempre, fui excelentemente bem recebido. A comida não era lá das mais indicadas para atletas elite, mas como já falei ali em cima, estamos longe disso! E uma das partes boas é essa, a de poder fugir um pouco da regra…rsrs. Comemos um delicioso churrasco com arroz carnaval (aquele que vem em blocos…kkkkk) feito pela Nádia (brincadeira Kirida!!!!). 
Conversando com o Nilsin, foram traçadas as mais diferentes estratégias para a corrida (que na hora “agá” não foram quase nenhuma lembradas). Conversamos muuuito fiado até perto de meia noite. Até pq, como quem compete sabe: não adianta nem querer dormir cedo antes de corrida!!!! A cabeça fica fritando!
Engraçado que mesmo durante a semana, só de lembrar do que seria a subida inicial da corrida, que passa ao lado do lixão, já dava “gastura no corpo”. Isso, aliado ao clima extremamente seco e quente característico desta época do ano, fazia os ingredientes perfeitos para abalar o psicológico de qualquer competidor. No meu, até mais ainda, já que já faziam muitos meses que estava longe de competições.
Hora da largada. 
Diversos carrascos alinhados. 
Uma oração pedindo a Deus a proteção.
Pernas lisas (depiladas).
Veias das mais diversas estufadas.
Pupilas dilatadas.
Músculos trêmulos. 
Marchas encaixadas.
Marchas certas?
Estariam erradas? 
Uma gigantesca subida de “boas vindas” a frente.
O concorrente da frente largando de coroão e eu de coroa do meio….
Calibrei o pneu?
E o Gel? Vai ser fácil de tirar?
Será que a água vai dar?
Locutor: “-Dois minutos para a largada!”
Nuss!!!! que vontade de ir ao banheiro
Lembrei de colocar o alarme do carro?
Tranquei a porta de casa?
Desliguei a chama do fogão?
….
Foco
Foco p******rra!!!!
…..
Locutor: “-30 segundos para a largada”
Sapatilha clicada
Polar acusando 110bmp ainda parado!
Uma última respiração bem profunda
e……
PÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÍIIIINNNNNNNNNNN
Foi dada a largada!!!!!
Conforme previsto, subida inicial duríssima!!!!! Os batimentos já no limite e os músculos inchando MUITO! Extremamente doído! O gosto de sangue na boca é inevitável. Sem contar a vontade inicial de desistir. Largar aquele sofrimento pra lá, sentar num sofá e tomar uma cerveja gelada…
Mas… já que estávamos ali….rsrsrs
Nessas horas é fácil ver a galera que não conhece bem a lendária região de Bonfinópolis: os que somem na frente, não imaginam o que está por vir.
Passada a primeira subida, é hora de pegar uma bela de uma descida bem inclinada e sinuosa. Muita cautela nessa hora. Um pneu rasgado ali é fatal para qualquer prova. E seguindo este rito, foi passando-se a primeira parte da prova, até adentrarmos no famoso Single Track do Fontenelle. Ali, modéstia a parte, nós Seriemas damos show! E isso foi sacramentado! Eram só pedidos e mais pedidos de passagem para os outros atletas abrirem, afinal de contas, ali é nossa praia. Desfile terminado e lá se vem mais e mais subidas de estrada.
Até ali, estavam comigo dois companheiros que conheço desde meus primórdios do Mountain Bike: Pedro Barui (Pedrim) e Guilherme Marmorarte. Eu e Guilherme forçando Muito para conseguirmos acompanhar a passada do Pedro. 
Em determinado momento, já com pouco mais de uma hora rodando, cruzamos com um colega que estava com o Cateye funcionando. 
Me perguntei se valeria a pena questionar quantos quilômetros já havíamos rodado, com um grande receio de me arrepender. Mas as palavras sairam da boca antes que eu pudesse contê-las: “-Já rodamos quanto?”
O colega gaguejou mas respondeu com uma voz até trêmula: “foram 15 km”. 
Minha resposta pronta: “-p***taquepariu”
E, de fato, bateu o arrependimento de ter perguntado. 
Fomos tomados por um silêncio desolador. 
Matutei comigo e percebi que se continuasse naquele ritmo do Pedro, não conseguiria chegar ao final da prova vivo. Me parece que Guilherme pensou o mesmo. 
Nas grande subida antes de chegarmos ao famoso vilarejo do Parapedro, tiramos o pé. E o Pedro abriu.
Engraçado que o atleta pode ser “rodado” o que for. Pode ser forte o que for. Mas quem já andou naquela região sabe o significado da palavra “Respeito”. Respeito ao que as montanhas impõem ao corpo do atleta. Principalmente porque em nossa mente fica o tempo todo a imagem da monstruosa subida da Macaca. E sabemos bem que se não houver um pouco de força sobrando quando se chega naquele local, não se consegue terminar a prova. É um certo tipo de abalo psicológico. Diria até que é algum tipo de trauma… rsrs
No vilarejo do Parapedro, fizemos algo que não é comum em provas de Mountain Bike: parar por completo para nos hidratarmos. O calor e a secura já cobravam o preço. Eu devo ter tomado umas 5 garrafinas e ainda enchi as minhas caramanholas. O Guilherme fez o mesmo. Ele me mandou seguir, mas eu falei firmemente: só saio hora que tu sair. 
Ali, naquele momento, era claro que juntos estávamos bem mais fortes do que sozinhos. Íamos trocando murmúrios de dor nas subidas e mantendo o ritmo juntos. E assim seguimos. 
Este percurso tem uma característica interessante: antes de subirmos a Macaca em si, há uma série de uphills e downhills que parecem terminar a minar o restante das energias que tentamos guardar. Chega a ser estressante ver as pernas inchando e doendo ainda mais quando tínhamos que estar bem para enfrentarmos a macaca. Ali, meu companheiro de prova resolveu tirar o pé. Fiquei sozinho ao passar o rio logo depois do famoso paredão. Topei o grande amigo Israel Wolf, que é bem conhecido do grupo Seriema pelo som irado da banda que tem (Dogman). Trocamos algumas palavras que nem me lembro mais quais foram. Me senti bem, continuei abrindo sozinho. 
Eis que chega o pé da Macaca. 
Ali estavam os amigos Nilsinho Braz, Will Bolinha e Gustavo Carnelosso. Palavras de incentivo (diversos xingamentos), um gole de alguma água gelada que arrumaram e vamos que vamos!
Quem conhece ali, sabe que o início é a parte mais ingrata da subida. Extremamente íngreme e com um cascalho relativamente solto. Nem ameacei tentar. Calcei as “sandálias da humildade”, desci da bike e aproveitei para dar passadas bem largas para alongar os músculos das pernas. Passado o inciozinho punk, foi hora de colocar a coroinha em ação e ir no meu ritmo. Tentando manter a concentração.
Ali, o cenário já era de guerra: diversos corpos estendidos ao chão. Muita gente tentando tomar ar, como se estivessem na altitude do Himalaia. 
A todo instante cruzava por alguém parecendo zumbi (meio morto, meio vivo). 
Ao final da subida, estava ao meu lado Israel Wolf. Ele havia conseguido tirar a pequena vantagem que eu havia colocado antes da subida. Ensaiamos pedalarmos juntos. Mas recuperei minhas forças e sabia que um pouco mais a frente da parte plana depois da Macaca havia uma descida insana antes da última subida do dia. Decidi arriscar. Soltei MUITO os freios.
Cheguei na última subida.
Decidi não olhar para trás. Seria energia jogada fora, pois já estava em meu limite.
Subi no ritmo. Sem deixar a passada cair e sempre com o pensamento: “Se for para dar cãimbra, que dê! Não estou nem aí!”
E assim foi. Cheguei ao final da subida, olhei para trás e não vi mais o companheiro Israel. 
Coloquei coroão e arrochei as marchas. 
Mais uma loooonga descida para chegar à cidade. Respirei fundo. Já doía tudo. Mas doía bem mais do que geralmente dói. Durante a descida, dei dois vacilos que quase me levaram ao chão. Se caísse, seriam tombos sérios. Com certeza, era a fadiga tomando conta do meu corpo. Afetando meus reflexos. Descida acabada. Olhei para trás. Nada do concorrente Wolf. Era “só” mais uma subida de asfalto. Tentei ir no ritmo mas o estrago no corpo já havia sido feito. 
Deviam faltar coisa de 6 quarteirões para entrar na praça onde havia o pórtico da chegada. 
Fui subindo de coroinha. No terceiro quarteirão, ouço algumas passagens de marchas ao meu lado. Olhei de rabo de olho. E era ninguém menos que ele! Israel Wolf ali! Mas como?!?! Teletransporte? Tentei acompanhá-lo. Uma abaixada de marcha na catraca por parte dele foi como uma paulada forte na minha nuca. Tentei reagir. LEvantei da bike. Ele também. Mais um ataque por parte dele. Uma revirada forte no meu estômago denunciou que ali, tomei um KNOCKOUT. 
Israel foi-se. 
Mais que merecidamente.
E o final foi top!
Um grande abraço de amigos concorrentes depois do pórtico da cronometragem, como deve ser!
E lá estavam os outros Seriemas, incluindo a Larissinha que voltou a andar conosco, todos me esperando e vibrando com minha chegada. De fato, o maior de todos os troféus. 
Depois de alguns (vários) copos de água tomados, fui trocar idéia com Israel, afinal de contas, eu PRECISAVA saber como ele havia sobrevivido e me contra atacado!
A lição do dia:
Israel: “-Quando cheguei ao final da descida, te vi ao final do primeiro quarteirão da subida. Eu estava morto. Mas daí pensei:’e se ele fosse o primeiro colocado e eu estivesse em segundo lugar?…’ Era o que eu precisava para te buscar. E assim o fiz”
Lição para a vida toda!!!
Foi top!!!!!
E depois da corrida, nos reunimos na casa do Nilsin para mais um churras daqueles e para muuuuuuitas piadas e curtições ao vento! E isso, claro, ao som de muito rocknroll!!!!
Bike, amigos e rocknroll! Dia top!
Por Gustavo Johny Bravo/Mudim
Seriema Mtb Roots!!!
P.S.: peço desculpas ao grupo se o post foi um tanto egocêntrico, mas infelizmente ainda não encontrei outra forma de expressar em palavras o sentimento coletivo das provas que participamos. 
P.S II: Na saída de Senador Canedo, fui agraciado por este pôr do sol. Impossível não parar para fotografar!