Seriemas, Paracambike, Caminho das Pontes e o conceito de ETERNIDADE!

4 horas da manhã. Foi quando o despertador (maldito) tocou.
Ainda estávamos desnorteados por conta da noite pessimamente dormida.
Se é que daria para chamar aquilo de noite de sono.
Todos que já fizeram cicloviagem sabem o quanto é complicado  dormir um dia antes da partida.
Há um “checklist” que se passa insistentemente por diversas vezes pela cabeça.
E os mais sistemáticos insistem em abrir uma listinha no celular para ver (em vão) o que poderia estar ficando para trás.
É meia noite e meia. E agora sim, tentamos dar um pequerno cochilo.
Precisaríamos pegar o carro e seguir até Formosa, para a partir dali, começarmos a cicliviagem.
Após termos o apoio do companheiro Sillas, presidente do Clube Formosa Bike Sport, deixamos o carro e, finalmente, subimos nas magrelas.
6:30. Asfalto rumo à entrada da Cachoeira do Itiquira. Já denunciando a maravilhosa paisagem que nos acompanharia ao longo do dia.

A quantidade de falso planos com descidas facilitou uma média altíssima no início do pedal. Nos entusiasmando muito. Chegamos ao primeiro boteco onde mandamos Coca Cola para dentro junto com alguns pães de queijo.

E dá-lhe chão.
O nome desta viagem não é a toa. São muitas e mutias pontes ao longo do cainho. E como “Passa-Tempo”, começamos a contá-las. E de fato foram muitas.

É indescritível em palavras as paisagens que nos deparamos ao longo do caminho….
Quando deu perto de 11 horas da manhã, começamos a sentir muito calor. E isso aliado à falta de umidade, fez com que déssemos uma quebrada.

A água tornou-se um chá e já não era capaz de matar a sede daquela forma. Decidimos parar em um dos “corgos” para tentar amenizar um pouco a situação.

E pensa num local top! Sem palavras para descrever….

O Garmin registrava a causa de tal desconforto: 45 graus na moleira. Era de quebrar qualquer um. Iríamos parar para almoçar na próxima venda indicada pelo GPS. Chegamos ao local “secos” e com muita fome. MUUUUITO infelizmente, o local estava fechado. E só dali “seis quilômetros” é que haveria uma outra venda.

Temperatura de “só” 45,1º

Mais uma vez, quem já fez cicloviagem, sabe da latada que é confiar em distância indicada por matutos. Facilmente, esses 6km tornam-se 20km. E não deu outra…quando deu 15km, decidimos parar por ali mesmo, em uma sombra no meio do nada e fazer nosso “banquete”: amendoim, gel energético, banana desidratada e bolachas. Tudo isso acompanhado de “chá de água”, na temperatura ambiente.

Aproveitamos para dar manutenção “a lá seriema” no câmbio traseiro do Mandioca, que havia perdido um pedaço da ponta, fazendo a corrente escapar em todos os buracos maiores. (Piadinha interna: Romar, vc é um m***rda!)

Depois do lanche, continuamos firmes no caminho.
Mas passamos a sentir bastante o sol quente. A temperatura ia variando acima dos 45 graus. Muito quente. E quando já estávamos pensando em parar à beira de uma sombra no meio do caminho, eis que surge o tal boteco, há mais de 20km depois dos 6km indicados pelo matuto no meio da estrada. Era como se tivéssemos visto um oásis no meio do deserto. Paramos e nos delicicamos com muuuuuuuito refrigerante gelado. E ali não teve jeito: rolou uma soneca meeesmo em baixo de uma grande árvore que havia na porta.

A Dona do Boteco chegou até a fazer pratos para comermos, mas acabamos fazendo desfeita por não comer.
AO sair, pedimos muitas desculpas por não conseguirmos mais comer e formos firme até um assentamento que estaria adiante.

Mais adiante em um assentamento, novamente: parada para refrigerante, conversa com um cara bebaaaaaaaaço no boteco, bolachas para dentro e depois foi hora de nos deliciarmos com uma maravilhosa vista de uma barragem no meio do caminho.

Assim que passamos, a gambiarra havia se partido. Tivemos que parar para refazê-la.
Ali, já estávamos sentindo o cansaço da viagem. Ainda faltava cerca de 40km pela frente. As pernas inchadas já começavam a dar sinal de cansaço.
PEgamos a estrada e alguns quilômetros a frente, Mandioca acabou se quebrando de cansaço. Faltava cerca de 30km para chegarmos e o dia já ia raiando. O calor diminuía, mas o estrago em nossos corpos já estava feito. O caminho para chegar ao destino do primeiro dia sempre é tortuoso na chegada. Pega-se falso plano tendendo a subir. POrém, o que mata são os terrenos arenosos alternando com muuuuuuuuuita costela de vaca.
Algumas tentativas em vão de empurrar o companheiro.
A dia acabara.
Em determinado momento, as dores e a fadiga eram tão grandes que decidimos deitarmos no meio da estrada.
Que nem dois loucos varridos.
Sem nenhuma cerimônia nem pudor.
Bike prum lado.
Pilotos pro outro.
E faltam “só” 15km.

Liquei meu farol. Mandioca tentou ligar o dele mas…bateria zerada.
Fomos apenas com o meu. Alguns morcegos acompanhando os locais por onde a luz forte batia no chão.
Naquele ponto, a fadiga era tamanha que acabamos perdendo completamente a noção de quantas pontes havíamos passado naquele período final.

Sofrimento estampado

O que era calor, agora passava a dar lugar a uma brisa um pouco mais suave. Porém, ainda sim, abafada.

Cãimbras.
Falta de ar.
10km a frente.
Mandioca citou: “se passasse um carro, eu acho que pediria para entrar nele”
Retruquei: “Eu não deixaria você entrar! Se chegamos até aqui, vamos acabar!”
Mais uma parada em uma ponte.
Decidimos, então, “protestar”.
Caminhávamos nas subidas a fim de alongarmos os judiados músculos. Tentando espalhar todo o ácido lático acumulado ao longo do caminho.
Na marca de 7,7km, eu quem pedi para parar. Ali, achei que não conseguiríamos mais. Era mais de 8 horas da noite. Estava me sentindo completamente exausto. Tentei comer uma banana desidratada, mas o corpo, sabiamente, num instinto de sobrevivência, regurgitou. Em outras palavras: “Chamei o Juca/Raul”. Era a forma dele dizer: “Meu brother, para mim, CHEGA!”
A paisagem repetitiva do farol ajudava, ainda mais, a stressar a mente.
Ali, todo tipo de pensamento vem na cabeça do viajante. Eu garanto: os mais bizarros possíveis. Que vão desde largar a bicicleta no meio do mato junto com a mochila e seguir caminhando, até chegar a redigir uma carta de despedida aos seus amados entes no celular para quando acharem o seu corpo.
O início daquela noite estava resumido em uma única palavra: exaustão!
E é engraçado que uma parte da sua mente começa a tentar te dar fôlego. Eram apenas 7,7km. Menos que uma voltinha no Parque da Cidade. Uma pernada no “Eixão”.
Neste momento, sentimos o perfeito conceito de “ETERNIDADE”. Aquele restante de caminho, tornou-se eterno enquanto durou. Já diziam os sábios que o tempo é relativo. E a relatividade em cima do selim, quando se está acompanhado da “Dona Morte” faz com que os minutos se tornem horas. E que cada centímetro vencido, acabe, por consequência, se tornando quilômetros.
Faltado apenas 5km, eu acabei pedindo arrego e decidi que se passasse algum veículo, entraríamos dentro dele.
Não passou.
Devagar e sempre, chegamos.
Quando avistamos o pequeno povoado do Forte, simplesmente não acreditávamos no que estávamos vendo.
Chegamos na Dona Dora (que já é acostumada a acolher loucos viajantes) por volta de 21 horas (sim, demoramos . Lá faríamos nosso pouso.
Deitamos no chão composto de pedras e cimento. Como dois combatentes de terra. Fazendo nada além de respirar. Nem água era capaz de entrar em nossos corpos.
30 minutos mais ou menos de um sono extremamente profundo.
Dando tempo ao tempo.
Deixando o corpo se recompor.
E depois que acordamos, fomos servidos com um gigantesco banquete que só a Dona Dora sabe fazer. E destaque para um dos melhores sucos de caju que já tomamos na vida. Feito da Fruta mesmo.
Naquela hora sim, a sensação de dever cumprido tomou conta das nossas mentes.
O povoado do Forte trata-se do remanescente de uma quilombola. O local, de fato, parece ter parado no tempo. E para quem quer saber um pouco mais da história, tem aqui nesta tiragem de jornal:

Decidimos acordar não muito cedo como é de praxe em viagens. Queríamos dar tempo para a musculatura se reestabelecer o máximo possível.
A noite foi de sono pesado e um pouco turbulento. Principalmente por conta dum “féla” que ficou passando na porta o tempo inteiro em uma moto com o escapamento aberto.
—–
Acordamos.
Mandioca logo se impressionou com a vista top que o povoado abriga. Como havíamos chegado durante a noite, não havia como ter visto. E pensem numa vista linda!

E mais uma vez um grande banquete nos aguardava.

Depois de deixarmos nossa marca, de termos forrado o estômago e de estarmos devidamente equipados com uma marmitinha de pães de queijo, partimos rumo ao caminho do segundo dia.

O grande desafio estava no final da viagem. Composta de MUITAS subidas para se chegar em Alto Paraíso.
Seguimos firmes rindo bastante do perrengue dos perrengues do dia anterior. Percorremos os 7,7km num piscar de olhos….

Com poucos quilômetros, chegamos a um grande rio. Impossível não parar para nos refrescarmos e trocarmos idéia com dois moradores da região.

Adiante, mais uma parada para Coca-Cola e para ajeitar a gambiarra do câmbio. Mandioca aproveita para alongar-se.

A partir dali, não havaria mais nenhum ponto de apoio. A parada seria apenas no destino final.
A sombra abaixo das nossas bicicletas denunciava que o meio dia se aproximava.
Andamos e começamos a pegar as subidas. E foram MUITAS! MUITAS.
Parada rápida para almoço estratégico.

O calor começou a nos castigar novamente. E dessa vez, o GPS ia marcando entre 45 e 49 graus. E infelizmente, naquelas alturas, já não havia pontos de apoio. Seguimos bastante castigados. As longas subidas começaram a ficar imprativáveis. Começávamos a caminhar cada vez mais.

GPS marcando 48,4º

Infelizmente, ali nos deparamos com um dos grandes gargalos em cicloviagem: a falta de água. Como já estávamos no alto da Serra e como já não chovia há dias, não haviam pontos de reabastecimento.
Até que em certa altura, por conta da experiência do dia anterior, faltando “apenas” 5km para chegarmos, decidimos entrar na caçamba de uma caminhonete que passava para terminarmos de chegar em Alto Paraíso.
E foi tooooop!

Mesmo com um gostinho de quero mais que ficou com esses 5km finais, chegamos extremamente satisfeitos à acolhedora e aconchegante cidade de Alto Paraíso.
E com certeza, VAI TER VOLTA!!!!!!
Agradecimentos especiais ao Victor “Mandioca” e a todos os amigos do Seriema e da Paracambike pelas vibrações positivas. Sem elas, duvido que teríamos passado pelo primeiro dia inteiros…

Por Gustavo Mudin
Seriema Pedal Roots!

XCO Ventura!!

Sabiamos que tava rolando
Ouviamos que era bom
Algumas fotos denunciavam que eram bom mesmo!

A convite do Matheus Ventura e Rodrigo Kalango, a trupe do Seriema Pedal saiu para os rumos de Goianira pra conhecer o CIRCUITO XCO VENTURA.
Na verdade o local fica em uma grande área de lazer, na rodovia entre Goiânia e Goianira, que compreende uma imensa área verde, com restaurante, pesque-pague, bar com piscina, chalés (em fase de acabamento) e a recém inaugurada pista de MTB XCO.

Matheus Ventura, disponibilizou o local e coube ao Rodrigo Kalango realizar a empreita da construção do circuito.
A maior parte fica em um morro, de onde se observa quase toda a propriedade, com terrenos que mescla o cascalhado, no início, com uma terra quase preta, no restante do morro.
Tem os percursos “Reduzido”, “Prus Mininus” e “Prus Homi”.

Logo na nossa primeira volta percebemos que habilidade é tudo nessa pista. Pra completar, fomos pegos com uma leve chuva, que fez a descida fica ainda mais sinuosa, mas não menos divertida!
Esperamos alguns minutos. Chuva deu a trégua e partimos de novo.
A surpresa é que o terreno ficou ainda melhor. Devido a grande mistura de terra com a mistura de folhas e galhos, a água é rapidamente absorvida, não ficando lama na parte mais técnica.
Foi TTTOOOOPPPPP as outras voltas!!

O XCO Ventura surpreende não apenas nas descidas, onde pedras amontoadas naturalmente fazem um rock garden desafiador e também alguns obstáculos artificiais que fazem diferença.
A grande sacada, na nossa opinião, fica por conta das subidas, que além de longas e duras, são bastante técnicas, com suas curvas off camber, fazendo os desavisados a ter que encarar a plaquinha “EMPURRA PAU DE RATO”!!!

No mais, fizemos nossa tradicional festa!
Obrigado Kalango e Matheus, local incrível!!!