Cicloviagem a São Francisco

 

DE PIRENÓPOLIS A SÃO FRANCISCO
E lá vamos nós para mais um fim de semana de pilhagens e latada, como já é de costume. Dividimos o trajeto em dois grupos, um saindo de Piri com uma quilometragem bem menor e outro saindo de Goiânia. Marcamos de nos encontrar no povoado de Radiolândia, ainda no município de Pirenópolis. Fui incumbido pelo Guga de relatar nossa diversão de Piri até o povoado de Radiolândia, mas antes de fazê-lo permitam-me um breve momento para expressar minha gratidão a Deus.

Estou afastado dos treinos, portanto um pouco despreparado fisicamente para certos tipos de pedais. Porém, Deus tem sido gracioso ao me conceder saúde, disposição e sabedoria para participar de momentos gratificantes como foram os acontecimentos deste fim de semana. Pedalar ao lado do meu filho Rafael, poder aprender com ele e termos tempo juntos tem sido realmente benção na minha vida. Thanks Rafa!!!
A partida de Piri estava marcada para 7h30min da manhã do sábado 31/08, Élvio (Jão), Weldes Jr. (Zoião), Willian (Bolinha ou Indiano) Rafa e eu, Carlão. Estávamos bem tranquilos, nosso trajeto seria mais curto, alguns trechos técnicos pelo “Caminho de Cora”. Tínhamos em mente divertir e aproveitar ao máximo o que estivesse à nossa frente e completaríamos a diversão quando reuníssemos todo o bando na parte final do caminho, a partir de Radiolândia.

Como não poderia deixar de ser atrasamos nossa saída um pouco, cerca de uma hora após o horário combinado. Rafa e eu esperávamos na saída da cidade de Piri quando nossos amigos nos encontraram: “Putz lá vem o Bolinha, de fixa (1). Será que ele vai mesmo encarar essa latada nessa bike? Sim, ele vai.” Essa era a pergunta do dia. Então bora curtir essa bagaça ao estilo “Seriema Pedal” apesar do tempo muito seco e temperatura batendo nos 35 graus Celsius.

Seguimos em direção a Caxambú, distrito localizado a mais ou menos 25km de Piri por estradinhas bem sinalizadas e demarcadas. Nossa primeira parada foi na fazenda do Maurinho, no pé da serra de Caxambu e nossa primeira recepção não poderia ser melhor. Maurinho me conta em um bom papo que sua fazenda está sempre pronta pra receber os “viajantes” pelo Caminho de Cora, seja de bike ou a pé. O público é variado, segundo me disse passam pessoas de todas as partes do país e ele oferece alimentação e hospedagem em um ambiente rústico, porém com uma vibe especial. Me conta que está construindo um ponto de apoio no alto da serra para que os passantes possam se abrigar ao passarem por ali. Mal sabíamos que a tal serra de Caxambu tem uma inclinação de fazer perder o fôlego até aos mais preparados fisicamente.

Seguimos até o topo, Rafa disparou na frente seguido por Zoião e eu em meu ritmo beeemmmm moderado. Bolinha e Jão aproveitaram o momento para colocar o papo em dia caminhando boa parte da subida. O contraste da paisagem nesse tempo seco no cerrado é algo pra mim fantástico. Do alto avistamos um vale que nos dá uma visão única da paisagem ao longe. Agora só queríamos nos refrescar um pouco à sombra e seguir adiante. Subimos, agora era a vez da parte que todos têm mais prazer nos pedais, descer a serra de Caxambu.

Assim como a subida do outro lado a descida também tem uma inclinação bem legal e trechos que exigem um pouquinho de técnica, situação que nos agrada demasiadamente. Infelizmente para o Bolinha na sua fixa as descidas não são tão prazerosas naquele terreno. Sua bike não proporciona estabilidade pela configuração utilizada. Ahhh!!! Nem é tão longa assim para descer carregando a bike até retomarmos as estradinhas novamente.
No pé da serra chegamos direto no curral do Sr. Quinzim, pra mim o momento impar da nossa trip. Zoião com pneu furado precisava parar pra consertá-lo e nós com sede e muito calor estávamos ávidos por uma boa sombra e água gelada.

Ao nos avistar Sr. Quinzim já dá as ordens: Passem pelo curral, venham até aqui assinar no meu livro de registros e tomar uma água. Eita! Prosa boa, histórias pra contar, um cafezinho feito na hora pela sua esposa e uma boa cachaça saboreada pelo amigo Bolinha, afinal nada de fazer desfeita por tamanha hospitalidade. Sr Quinzim é homem do campo e do alto dos seu 58 anos bem vividos tem as suas regras aliadas a uma personalidade forte e bastante peculiar. Ao se apresentar vai logo dizendo, sou homem da fazenda e no meu “sistema” não gosto de pedir desculpa e muito menos desculpar. Falei tá falado!!! Por minha vez, cresci e convivi parte da minha infância e adolescência passando férias na fazenda do meu bisavô, desta forma nosso papo rolou solto e até com certa “harmonia”….. hehehehe (pretensão).
Conta com orgulho que tem a assinatura da “Larissa Goulão” que passou por lá inaugurando a rota. Sr. Quinzim essa foi a Raíza, corrigimos. Bom de prosa e “Carreiro” tradicional da região nos conta histórias sobre suas viagens anuais a Trindade na festa do Divino levando sua família em dois carros de bois puxados por 10 juntas. Seis dias de viagem até Trindade acampando em fazendas. A diferença entre nós Sr. Quinzim, é que nossas viagens são feitas de bike, quem sabe um dia os acompanharemos ajudando na “guia” dos bois….hehehehe.
Partimos em direção a Caxambú e depois Radiolândia onde marcamos de juntarmos o bando e de lá seguirmos até São Francisco. Temperatura na casa dos 30 e poucos graus Celsius e subindo, antes uma paradinha para tomarmos um caldo de cana geladinho e repor energia para mais 12 km aproximadamente até Radiolândia. O problema é que nesta altura do campeonato 12k parecem se tornar 120k….hehehehe

Chegamos ao povoado pouco antes das 14h e tudo que queríamos era refri seguido por uma cerveja beemmmm gelados. Sem notícias do outro grupo tratamos de descansar, conhecer o lugar e providenciar um almoço pra todos. Tiago, dono do bar de frente à praça percebeu e logo providenciou com sua mãe o nosso almoço abrindo sua casa pra nos receber e repor as energias. Teríamos pouco menos de 30 km até nosso destino final.
O grupo que partiu de Goiânia chegou um pouco depois, exaustos pelo clima e “baleados” pelo trajeto bem mais difícil que o nosso. Essa viagem deixo para o Guga relatar…..

(1) – Chamamos de Fixa a bike que só tem uma relação de marcha, ou seja, uma coroa grande e apenas uma catraca. Seu garfo é rígido e pneus slick um pouco mais largos que os pneus utilizados em bikes de estrada. Assim ela trafega nos dois tipos de terreno, terra e asfalto.
DE GOIÂNIA A SÃO FRANCISCO

E lá vamos nós.
Tirando o jejum de um bom tempo sem cicloviagens.
O destino final: Cidade de São Francisco, no norte do Estado de Goiás. Que acabou mais conhecida por ser um ponto de passagem para quem faz o famoso Caminho de Cora Coralina, que sai de Corumbá de Goiás e vai até Goiás Velho, antiga capital do Estado.
Esta viagem seria num formato um pouco diferente do que costumamos fazer. Sairíamos de Goiânia e voltaríamos à mesma cidade. Por dois caminhos diferentes.
Além disso, uma outra parte do bando saiu de Pirenópolis para um encontro em Radiolândia, de onde seguiríamos juntos até o destino final juntos.
E lá fomos nós….

Encontro às 5 da manhã ali na praça Walter Santos depois de não dormir praticamente nada a noite.
Quem é do pedal sabe que noite anterior a uma cicloviagem, tentar dormir chega a ser frustrante.
Uma lista de coisas fica passando o tempo todo não deixando a mente desligar.

 

Saímos pelas ruas da cidade pela saída de Nova Veneza pelo asfalto, pegando estrada de chão logo depois do Campus de Samambaia. Por ali que o dia começou a raiar. E a partir dali, “deitamos o cabelo” rumo a Nerópolis, onde tomaríamos o café da manhã.

Pra quem leva o pedal como filosofia de vida como nós do Seriema levamos (independentemente de levar os treinos muito a sério), sabe da sofrência que é quando, por motivos de força maior, precisamos ficar longe da bicicleta.

E neste sentido, eu particularmente posso dizer que este pedal teve um gosto diferenciado. Principalmente por estar há mais de dois anos longe de pedais rotineiros. E há quase 4 longe de cicloviagens.

A partir dali, conhecemos o nosso grande inimigo que nos acompanharia em toda a cicloviagem: a força do sol!
E ali em Campo Limpo, já fritando os miolos, não teve jeito! Precisamos abastecer a água do radiador.

Esta parte do caminho já é bem conhecida de ciclistas que fazem a rota Goiânia – Pirenópolis.
Alguns km adiante da cidade, com o sol a pino, chegou o primeiro desafio monstro do dia: a Subida do Tatu.
Longa.
Inclinada
Dura!
E com o ingrediente que terminou de fazer o estrado: calor dos infernos subindo.
Eu, que não sou bobo nem nada, decidi que nesta cicloviagem iria de tênis (e não sapatilha).
Humildemente já sabia que iria empurrar um bocado.
E assim foi feito.
Caminhada protestando até o pico.

Ali, encontramos alguns outros colegas de cicloviagem que seguiriam até Pirenópolis. E foi a partir dali mesmo que bifurcamos para um caminho inédito, indo para Souzânia, ao invés de seguir até Interlândia.
Mais uma parada para coca cola e água.
O calor continuava muito forte.
E a vista inclinada da cidade, já nos deu uma pista do que estaria por vir. O destino era Radiolândia, onde encontraríamos os amigos do bando que haviam saído de Pirenópolis, fazendo parte do Caminho de Cora.
Subimos. E subimos MUITO!
Eu particularmente, desliguei uma das fases do disjuntor.
O homem da marreta começou a martelar!
Em determinado momento, nos vimos em uma encruzilhada em que o GPS demonstrava cerca de 5km para a chegada. E quando nos vimos sem rumo, pedimos informações.
Primeiro com um senhorzinho.

Depois, com um motoqueiro. E os 5km se transformaram em 14km.
Ali, o psicológico abalou-se totalmente. E foi necessário um tempo para trabalhar a mente para seguir adiante (deitado no chão, obviamente!)

Subimos uma serra surreal com uma longa subida. A recompensa da vista foi muito boa, mas o prejuízo pras pernas já tinha sido feito.

 

 

E depois de sequência de terreno bem acidentado, com descidas até técnicas, chegamos a Radiolândia.

Lá já nos aguardavam os amigos que haviam vindo de Pirenópolis para o almoço.
Ali, nos foi oferecido um delicioso almoço oferecido pelo colega Thiago, dono da Pousada Miranda (clique aqui para ver o site da pousada).
Confraternizamos as histórias dos trajetos das duas partes do bando.
Ali em Radiolândia, muito infelizmente, tomei uma das decisões mais difíceis na vida de um cicloviajante: abortar o restante do pedal.
Segui numa corona de carro até São Francisco. Ali, já tinha rodado quase 105 km e não havia condição alguma se seguir os 30km restantes.
E galera seguiu caminho.
Nos encontramos em São Francisco.
Janta das melhores organizada pelo Vitim Mandioca.
Depois de uma breja de leve, todo mundo capotou

2º Dia.

Todo mundo meio moído, mas todos vivos!
Café da manhã dos melhores.
Fotografia com o bando todo reunido e pé na estrada!

Já nos primeiros quilômetros, nosso “inimigo” sol, já tratou de mostrar que não estava ali para brincadeira.
Som na caixinha do mandioca e seguimos adiante.

Ali pelos rumos de Petrolina, resolvemos já fazer um almoço mais cedo do que o usual. Tínhamos receio de demorar muito até a próxima cidade.

 

 

O problema foi justamente que por volta do meio dia, já estávamos com o sol na moleira de novo. Já na saída, 40 graus…e subindo chegando até os 45!
E dessa vez, o tal homem da marreta do dia anterior acabou colando no Mandioca.

Fizemos algumas paradas até antes de Damolândia para tentar esfriar os motores.
E logo depois de uma breve parada, dá-lhe serra de novo.

Dali em diante, foi “caminho da roça”.
Nova Veneza, Santo Antônio (com parada estratégica prum pastel) e Goiânia

 

 

Com um pôr do sol de tirar o chapéu.

Final de pedal. Confra das melhores.
E aquele sentimento de “quero mais”
Que venham as próximas!!!