Ciclo Expedição SERIEMA PEDAL à Vila de São Jorge 2013 – 3º Dia Offroad

“tec tec”…”zip zip”

Alvorada.

Confesso que essa noite foi uma das mais bem dormidas da minha vida. Tenho certeza que falo por todos. Mesmo dormindo com relativa fome, em cima de pedras e em uma ribanceira, estávamos tão cansados e fedidos por conta da falta de banho do dia anterior que todos dormimos muito pesado. 
Acordamos bem cedo, a ponto de já iniciar o dia com uma recompensa: um nascer do sol de dar inveja. Inclusive, para mim, essa foi a foto mais bonita da viagem. Foi feita pelo Élvio. 
Eleita “A” foto da viagem
Tratamos logo de ajeitar as coisas. Nosso cozinheiros oficiais (Auriam, Fernando e André) trataram logo de tomar as posições no fogareiro. Com um delicioso café (que estaria ainda mais gostoso se tivéssemos AÇÚCAR, né Senhor Nilsinho Braz?!) e bolachas, já iniciamos o dia recolhendo todo o nosso lixinho que havíamos feito no acampamento. Além disso, tomamos providências de apagarmos a fogueira. 
Durante o café, tratamos logo de sentarmos e discutirmos o plano de ação do dia. Por mais que doesse em nosso ego e mexesse com nosso orgulho, decidimos voltar à região da pedreira. Mas dessa vez, desceríamos até a sede de forma a encontrarmos informações concretas de como era o caminho até o local onde pretendíamos chegar. 

Zarpamos com o tanque meio cheio, pois estávamos regulando a comida (não sabíamos ao certo o que nos esperava pela frente). Descemos até a sede da pedreira. Chegando lá, nossas previsões do dia anterior se estavam certas. O local estava totalmente abandonado. A única alternativa que nos restou foi seguirmos em frente pelo duríssimo caminho que o grupo havia pego dois anos antes. 
Duro caminho de volta à pedreira
Aproveitamos que ao fundo de uma casa no local, havia um rio que tinha a nascente logo ali. Recarregamos as caramanholas com uma água mais confiável do que a dos pocinhos do rio seco. Aproveitamos também para assaltar alguns pés de laranja que estavam por ali. Mesmo estando verdes, nos deliciamos com aquele gosto azedo mas que com certeza traria as disputadas calorias e vitaminas para nossos corpos já um pouco debilitados. 

EIS QUE!…….. TCHANAM!!!!!!!! 
Somos surpreendidos por um verdadeiro “Santo”, chamado Alfredo. Tenho certeza que nenhum de nós jamais esquecerá o nome dele. Ele veio montado em seu cavalo e guardado por dois cachorros. Era quase uma cena de filme hollywoodiano, quando o herói aparece para o salvamento. Ali, tratamos de pegar as diversas informações da forma mais fácil de chegarmos ao próximo ponto programado (o vilarejo que serviu de apoio ao Rally dos Sertões alguns anos atrás). 
“Santo” Alfredo nos indicando o caminho
Além de nos dizer o caminho, o “Santo” Alfredo fez questão de nos acompanhar até a entrada do local onde ele havia indicado. Pegamos um pedacinho de estrada e logo entramos em um single-track bem fechado. Estava tomado com um cerradão alto. Até tombo teve gente que levou…rsrsr.
Assim que chegamos a uma gigantesca pirambeira (que nao dava nem para ver o fundo), Sr. Alfredo disse quase em um tom sarcástico: “-É difícil, mas como vocês me pediram o caminho mais rápido, descam aí que logo chegarão na fazenda do Sr. João”. 

Senhores amigos…… o local era inacreditável. Tratava-se de um imenso paredão sem fim. Era quase impossível acreditar que alguém desceria por lá a pé. Quanto mais com as pesadíssimas bicicletas nas costas (lembrando que cada uma delas, estava pesando em média, 30kg). 
Com poucos metros descidos, a opinião era unânime: uma das descidas mais punks que já fizemos em nossas vidas. Era gigantesca e inacreditavelmente inclinada. De forma que mesmo sem os bagageiros e as tralhas, era quase impossível de se descer montado na bike (e olha que os Seriemas têm a fama de serem meio loucos nas descidas, hein?!)
Vista da estrada que estávamos tentando alcançar

Descemos com muito cuidado. Tomei várias “coronhadas” do banco da bicicleta, quando não aguentava segurar o peso dela. Sem contar, as vezes que a bicicleta tombou em cima de nossas pernas. Muitos nos machucamos bastante. Ao mesmo tempo que fizemos muito esforço descendo, a vista de lá era belíssima. Estávamos de frente para um grande vale, e conseguíamos o tempo todo avistar a estradinha que estávamos procurando. Para se ter uma idéia, eu estava com duas garrafas e uma mochila de hidratação cheia no início da aventura. Ao final, sequei quase tudo. Foram quase 50 minutos de escaladas com as bikes nas costas, até chegarmos na tal fazenda do Sr. João. O local foi prontamente batizado como “Single-track do Seu Alfredo”.
Chegando lá, o dito cujo não acreditou que havíamos descido por aquele local com aquelas bicicletas. Ele só acreditou pois não havia outro local para chegarmos aos fundos da fazenda dele. 
“Single-track do Seu Alfredo”
Enchemos as garrafas e logo seguimos em frente, rumo à próxima vila. Passamos por baixo de uma grande linha de transmissão. Em pesquisa, descobri que ela liga a Usina Hidrelétrica de Serra da Mesa à Subestação Luziânia, em 500 mil Volts. (foi mal pelo excesso de detalhamento… mal de engenheiro eletricista…heheh).

Já bem cansados devido à pouca alimentação do dia e depois de muitas e duras subidas, chegamos à pequena vila que recebera o Rally dos Sertões anos atrás (e local programado para dormimos, caso tivéssemos seguido o caminho inicialmente programado). 

Lá, fomos recebidos em uma vendia pelo simpaticíssimo senhor Elielson e sua mão, a Dona Glória. O alívio tomou conta de todos nós. Eram apenas 13 horas. Estávamos com pernas machucadas e exaustos. Até cogitamos parar por ali mesmo a viagem do dia. 
Abóbora+carne seca = prato top!!!!
Vista de onde almoçamos
A Dona Glória fez um almoço que ficará na memória de todos. Foi um prato digno de cheff e eu confesso que nunca havia experimentado. Além do tradicional arroz, feijão e um macarrão, comemos uma deliciosa carne seca com abóbora. Simplesmente espetacular!
Tratamos logo de nos hidratarmos muito bem com algumas brejas e muuuuuuuuuuita coca-cola gelada (acabamos com o estoque!, sem exagero!).
Tratamos bem de tomarmos um belo banho para tirar a inhaca do dia anterior. Tive a impressão de que todo mundo demorou bastante no banheiro. Acredito que tenha sido para tirar os “macucos” que estava mais pregados do que nunca!!!! KkkKKk
Sequelas do Single-track do Seu Alfredo + Macuco
Nesse dia, enquanto esperávamos, filosofamos e rimos muito do aperto que havíamos passado no dia anterior. Todos nos elogiamos mutualmente principalmente pelo respeito que temos frente aos limites (físicos e psicológicos) de cada um. 
O bando de amigos estava mais unido do que nunca!!!!

À sombra de uma árvore na porta do local, enquanto fazíamos o quilo, estávamos eu e o Élvio conversando. Filosofamos sobre a hipocrisia da “sociedade comum”. Sociedade essa que parece exigir que as pessoas sejam todas iguais. Que parece condenar as pessoas quando elas são felizes. De como ela, muitas vezes, exige sejamos todos uma “massa” ou um “cardume” único. Como muitas pessoas nos olham como verdadeiros E.Ts quando dizemos que não ficamos em casa num sábado a tarde assistindo Temperatura Máxima ou o Faustão no domingo. De como temos “coragem” de pagar aquele valor nas bicicletas. 
Nesse momento, me recordei de uma passagem citada pela lenda Hélio Vilela (conhecido como Papai Noel): “eu sempre vi as pessoas dizendo que possuem plano de saúde. Mas o que vejo, na verdade, é que as pessoas têm um ‘plano de morte‘, isso sim. O meu plano de saúde, eu adquiri quando comprei minha bicicleta!”

Depois de tanta conversa fiada, barriga cheia e o devido quilo feito, vimos que ainda dava para seguirmos em frente até o próximo ponto programado: a balsa.
Juntamos a tralha e seguimos em frente.
Estava até difícil de pedalar com a barriga tão cheia…rsrsr. No meio do caminho, um simpático senhor uma motocicleta nos abordou. Era o Sr. Irineu. Estava impressionado de como conseguíamos passar velozes e com destreza (mal de Seriemas… rsrsr) pelas descidas inclinadas da região. Citou que já havia tomado vários capotes pelos locais por onde passávamos. Depois de uma pequena prosa, ele nos convidou a passarmos aquela noite no quinta da casa dele. Um convite irrecusável para quem iria dormir ao relento e tomaria banho de água de rio. E assim foi feito. 

Chegamos à bela propriedade dele, onde estava também a Senhora Cleuza, esposa dele. O local tinha uma vista invejável para os chapadões que havíamos passado naquele dia. Armamos acampamento e tratamos logo de tomar banho. 
Interagir foi a meta principal da viagem
Mais uma vez, nossos “cheffs” Auriam, Fernando e André tomaram frente a um belo fogão a lenha. Fizeram uma macarronada com vários apetrechos top! 
Aproveitamos pois o local era um dos poucos onde os celulares pegavam. Todos subiram um pequeno morro para darmos notícia às patroas de que estávamos todos vivos e seguros. Nesse dia, tivemos a notícia de que o Carlão tinha dado uma surra nos concorrentes dele. Ficamos todos muito felizes e até tentamos ligar para ele, mas o excomungado não atendeu!!!
Cito aqui que ao longo dos pedais, lembramos de todos os Seriemas, sem exceção. Lembramos de como cada um estava fazendo falta naquela presepada. 
Depois disso, ninguém quis nem conversa. Foram todos capotar. 

Na noite, recordo-me de ter acordado com uma luz bem forte apontando para a barraca. Acordei achando que era alguma lanterna acesa, mas era a lua. Belíssima. Dava quase que para viajar sem farol a noite. 



Fatos do dia:

-todos tomaram banho (duas vezes!)
-pernas depiladas ajudam a sarar os machucados
-tinha um Pombo com “Maallll estaaarrrr” no caminho…
-o Dr. foi o vencedor da camiseta de bolinhas
-todas as barracas pingaram dentro por conta do sereno
-quem ronca continua dormindo antes
-teve gente que andou pra caralho! (literalmente!)
-abóbora+carne seca = combinação perfeita!
-todo mundo estava com macuco
-o single track do Alfredo ficou para a história
-“a simpatia é o habeas corpus para mais simpatia”
-nenhum alforge se desmontou nem caiu
-3o dia e apenas um pneu furado!
-fizemos um teste de DNA e detectamos que o Sr. João era parente do Romar (monossilábico)
-eu ia falar umas coisas engraçadas que o Nilsinho ouviu o Romar falando no telefone, mas deixa pra lá….kkk